Retomar a
Alca entra no rol das possíveis 'medidas impopulares' do candidato tucano, que
como presidente da Câmara cobrou fechamento imediato de acordo de livre
comércio com Casa Branca
Em recente
passagem por Porto Alegre, para uma palestra durante o chamado Fórum da
Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), o senador e
pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, propôs o fim do Mercosul,
que na sua visão deveria ser substituído por uma área de livre comércio.
A proposta
remete à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um projeto, digamos, neocolonizador
para a América Latina, lançado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton e
abraçado pelo governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Não chega a
causar surpresa as declarações do senador mineiro, se resgatarmos sua atuação
como presidente da Câmara dos Deputados.
No ano de
2001, por exemplo, Aécio Neves estendeu o tapete vermelho do Parlamento
brasileiro para o então secretário de Defesa dos EUA, William Cohen, empurrar a
Alca goela abaixo do Brasil. O seminário "O Brasil e Alca", na
Câmara, tinha oficialmente o objetivo de debater o tema, mas politicamente foi
uma ação de pressão política, para reduzir resistências e abrir caminhos para a
implementação daquele projeto.
Do encontro,
foi produzido o compêndio – há quem chame de livro – com o
mesmo nome do seminário, organizado pelo ex-deputado neoliberal
Marcos Cintra (PFL) e pelo diplomata Carlos Henrique Cardim. O prefácio é de
Aécio Neves e, nele, encontramos um pouco de seu pensamento de rendição à
dependência econômica do país, via Alca.
O atual
presidenciável dava como certa a implementação da Alca, e tratava o evento que
acabara de patrocinar como "um marco" para alcançar os objetivos
(estadunidenses), chamados por Aécio como "formidável":
"De
fato, o Seminário “O Brasil e a Alca”, realizado nas dependências da Câmara dos
Deputados, por iniciativa desta Casa, nos dias 23 e 24 de outubro de 2001,
pode ser interpretado – e certamente assim o será nos anos vindouros – como um
marco na trajetória de nosso processo de integração continental. (...)
Sem
dúvida, a liberalização do comércio em um território habitado por mais de 800
milhões de pessoas, com um PIB conjunto de US$ 11 trilhões, simultaneamente à
construção de uma normativa comum em áreas como a de serviços, de
investimentos, de compras governamentais e de propriedade intelectual, é, em si
mesma, um objetivo formidável."
Este parágrafo acima é uma pérola de servilismo, que parece até escrita pelo Departamento de Estado dos EUA e apenas entregue a Aécio para assinar, pois nem sequer cita as barreiras impostas pelos norte-americanos para a entrada de produtos agrícolas brasileiros, um contencioso histórico.
Ou seja,
defendeu integralmente que o Brasil abrisse seu mercado interno para os EUA,
sem sequer exigir qualquer contrapartida, mesmo em setores que o Brasil já era
mais competitivo.
Como se não bastasse, o prefácio de Aécio ainda trata a Alca como "acordo já firmado", "caráter urgente", e estabelece prazo-limite para 2005, o que faz o texto parecer mais uma peça de lobismo escancarado.
"...
Há que se ressaltar o caráter relativamente urgente de tão ambicioso
empreendimento. Com efeito, não defrontamos com um mero protocolo de
intenções, mas, sim, somos partícipes de um acordo já firmado sobre
o cronograma das correspondentes negociações, o qual prevê a conclusão dos
entendimentos no horizonte já visível do ano de 2005".
Para se ter
uma ideia, a proposta de fazer um tratado de livre comércio amarrando compras
governamentais condenaria todo o futuro da política de conteúdo nacional na
exploração do pré-sal. Hoje o Brasil já cria uma indústria até de sondas de
perfuração, a qual nunca teve. Com a Alca, teria de comprar eternamente tudo em
Houston. O resultado imediato disso? Desemprego e desindustrialização no
Brasil.
Com a Alca,
dificilmente teríamos como escolher o caça sueco Grippen e participar de seu
desenvolvimento tecnológico. Seríamos praticamente obrigados, por tratados, a
comprar os caças da Boeing e nas condições deles de não oferecer transferência
de tecnologia.
Também eram
um desastre anunciado as cláusulas de proteção de investimento. Se um
investidor americano fizesse uma aplicação financeira no Brasil e o dólar aqui
desvalorizasse, teríamos de pagar indenização por isso.
Outro
desastre seria a abertura irrestrita do mercado a bancos e seguradoras dos EUA.
Imaginem o rico dinheiro da poupança do cidadão brasileiro aplicado no Lehman
Brothers, que faliu na primeira das recentes crises internacionais, em 2008...
Agora, a
ameaça de acabar com o Mercosul e retomar a agenda da Alca entra no rol das
"medidas amargas" e impopulares – já anunciadas, mas ainda obscuras –
propostas pelos tucanos.
(FONTE: http://www.brasildefato.com.br/node/28504)
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