Artigo de Daniel
Cassol descreve as mortes dos operários na construção dos estádios brasileiros
para a Copa do Mundo e a postura do ex jogador Pelé, que tratou com
naturalidade as fatalidades
14/04/2014
A morte do
operário Fabio Hamilton de Souza foi a oitava envolvendo as obras dos estádios
para a Copa do Mundo deste ano. A terceira apenas no Itaquerão, em São Paulo. A
primeira ocorreu em junho do ano passado, quando José Afonso de Oliveira
Rodrigues, 21, caiu de uma altura de 30 metros, enquanto trabalhava no estádio
Mané Garrincha, em Brasília.
Com essas
mortes, o Brasil ultrapassa bastante a África do Sul no número de óbitos
provocados por acidentes de trabalho na construção dos estádios para a Copa. Enquanto
aqui totalizam oito, lá foram duas, quatro vezes mais. Segundo o Ministério
Público do Trabalho (MPT), a pressa para a conclusão dos estádios está entre os
agravantes para o alto número de acidentes fatais no Brasil.
No entanto,
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, não se mostrou comovido pelo índice de
fatalidade nos estádios. Em evento no dia 7 de abril, Pelé afirmou que
realmente está preocupado com o problema nos aeroportos e o fato do país não
estar aproveitando o evento como uma "vitrine" para o turismo. As
mortes que aconteceram durante a construção dos estádios, segundo ele, são
"coisas da vida".
A seguir, leia o artigo intitulado
"Coisas
da vida", de
Daniel Cassol, publicado no sítio Impedimento.org, que descreve as mortes dos operários e a postura
do ex camisa 10 da seleção brasileira.
José
Elias Machado atravessou a BR 290 na noite de 2 de outubro de 2011 para chegar
ao alojamento dos operários da Arena do Grêmio. Era domingo e o paraibano de
Juru estava de folga. Foi atropelado por uma caminhonete e morreu. Seus colegas
atearam fogo nos alojamentos em protesto. Machado tinha 40 anos.
José Afonso
de Oliveira Rodrigues tinha 21 anos quando caiu de uma laje nas obras do estádio
Mané Garrincha, em Brasília, no dia 11 de junho de 2012. Foi uma queda de 50
metros. O ajudante de carpinteiro não resistiu.
Araci da
Silva Bernardes trabalhava nas obras da Arena do Grêmio quando foi atingido por
uma descarga elétrica no dia 23 de janeiro de 2013. Funcionário de uma
terceirizada da construtora, morreu na hora.
Raimundo
Nonato Lima Costa tentou passar de um andaime a outro no dia 28 de março de
2013, nas obras da Arena da Amazônia, em Manaus, se desequilibrou e caiu de uma
altura de cinco metros. Morreu por conta de um traumatismo craniano, segundo o
Instituto Médico Legal.
Carlos de
Jesus trabalhava na Arena Palestra, em São Paulo, quando foi atingido por uma
viga de três toneladas no dia 15 de abril de 2013. O operário morreu na hora.
Ele foi enterrado em Tapuiu, município baiano de Araci, onde os pais moravam.
Deixou esposa e três filhos.
Fábio Luiz
Pereira tinha 42 anos e era corintiano roxo. Ele operava um guindaste de 420
toneladas quando a estrutura desabou e danificou parte das arquibancadas da
Arena Corinthians, em São Paulo. Fábio Luiz também foi atingido e morreu.
Ronaldo
Oliveira dos Santos descansava após o almoço também na Arena Corinthians.
Cearense de Caucaia, havia tentado a sorte em São Paulo 20 anos antes, e havia
cinco meses fazia nova tentativa. Dormia, provavelmente, quando o mesmo
guindaste que atingiu Fábio também o matou. Tinha quase a mesma idade de Fábio
– 44 anos. Deixou a mulher e duas filhas.
Marcleudo de
Melo Ferreira tinha 22 anos e era natural de Limoeiro do Norte, no Ceará. Ele
trabalhava na montagem da cobertura da Arena Amazônia quando caiu de uma altura
de aproximadamente 35 metros, no dia 14 de dezembro de 2013. Ele era
funcionário de uma subcontratada da construtora. Seus colegas relataram que ele
caiu em cima de uma cadeira, que ficou danificada.
Neste mesmo
dia, fazia muito calor em Manaus e um encarregado do setor de pavimentações do
Centro de Convenções do Amazonas, parte do complexo da Arena de Manaus, morreu
vítima de um infarto. De acordo com a família, José Antônio do Nascimento, 49
anos, tinha problemas de pressão. Colegas de obra disseram que ele havia se
queixado do calor.
Antônio José
Pitta Martins desmontava um guindaste de grande porte quando sofreu um acidente
no dia 7 de fevereiro de 2014, na Arena Amazônia. Encaminhado ao hospital João
Lúcio, morreu na mesa de cirurgia. Tinha 55 anos e havia nascido em Portugal.
Fabio
Hamilton da Cruz trabalhava na instalação de arquibancadas provisórias da Arena
Corinthians no dia 29 de março de 2014, quando caiu de uma altura de 15 metros
e morreu. Tinha 23 anos.
José Elias;
José Afonso, Araci, Raimundo Nonato e Carlos de Jesus; Fábio Luiz, Ronaldo,
Marcleudo e José Antônio; Pitta e Fábio Hamilton.
Edson Arantes
do Nascimento participava no dia 7 de abril de 2014 do lançamento de uma
coleção de diamantes criados a partir de seu cabelo quando foi perguntado sobre
a morte mais recente de um operário na Arena Corinthians. Ele respondeu: “O que
aconteceu no Itaquerão, o acidente, isso é normal, é coisa da vida. Pode
acontecer. Foi um acidente, entendeu? Isso aí eu não acredito que assuste, mas
a maneira que está sendo administrada, a entrada e saída dos aeroportos, eu
acho que isso é uma coisa que está preocupando”.
(FONTE: http://www.brasildefato.com.br/node/28143)
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